Há quanto tempo não fazem a você esta pergunta? Provavelmente, fizeram várias vezes, como fizeram a mim, quando era criança. As respostas mais comuns para as crianças da minha época costumavam ser: médico, engenheiro, advogado, jogador de futebol... sempre se referindo a profissão que elas pretendiam seguir. Ou seja, o que elas iriam Fazer e não Ser. A pergunta mais correta então seria: o que você quer fazer quando crescer? Ser e Fazer não são a mesma coisa, não é mesmo?
Sobre o que você ainda quer ser, ou se tornar, o que você responderia hoje?
Como adultos somos capazes de diferenciar verbos como Ter, Fazer e Ser, mas há situações em que eles se confundem. Na base da pirâmide de Maslow, está a satisfação das necessidades básicas, diretamente relacionadas ao Ter. A sociedade de consumo, com todas as suas virtudes e defeitos, nos mantém por muito tempo na esfera do Ter, muito além das necessidades básicas. Incorporamos desejos que não são originariamente nossos e os transformamos em necessidades. Somos estimulados a crer que o nosso mérito está relacionado a termos coisas, que viram símbolos de conquistas, de competência e até de valor. Nesta faixa, valemos o que temos. Há pessoas que se situarão aí até o fim de suas vidas. É um tipo de crença que não permite liberar o nosso maior potencial e está fortemente relacionada ao apego, seja a pessoas, a objetos, ao dinheiro ou ao poder. No nível do Ter, a felicidade pode ser muito frágil.
Já a dimensão do Fazer, nos traz um outro tipo de gratificação. Aqui, o importante é a construção. É a energia própria dos empreendedores e muitos tipos de realizações são geradas a partir destas pessoas. Idealistas costumam ser capazes de grandes esforços em nome de algo em que acreditam. Artistas podem almejar a criação e a manifestação de seus sentimentos acima de qualquer outra coisa. Na esfera do Fazer também podemos encontrar a ilusão do movimento, um outro tipo de crença, a do estar sempre fazendo algo, ocupando o tempo com alguma coisa, mesmo que, ao final, não seja o que nos fará feliz.
É na esfera do Ser que se encontram as nossas maiores possibilidades de construir a felicidade. Aqui vale o antigo conselho de Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”, um importante passo para responder à pergunta: “o que você quer ser?”. Ou seja, qual é o ponto A em que você se encontra hoje e qual é o ponto B desejado? Processos de coaching frequentemente fazem uso desta lógica. A jornada do autoconhecimento, quando aprofundada, nos permite intuir a nossa missão, seja de vida, de um papel que exercemos ou de uma atividade a realizar. Nos possibilita também desenvolver um propósito, algo que nos move interiormente e a deixar um legado, fruto do que construímos ao longo do caminho.
Quando refletimos sobre o que queremos ser, somos estimulados a ser melhores pessoas, mesmo que não sejamos más pessoas. Sempre há o que evoluir. Podemos ainda ser mais gratos, mais altruístas, mais resilientes, mais desapegados e, no conjunto, mais felizes.
Pessoalmente, a esta altura da vida, tenho ainda muito a me tornar. Espero ainda ter tempo para crescer no Ser, muito além do que poderia Fazer ou Ter.
E você? O que deseja ainda se tornar? O que você deseja Ser e ainda não é?
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