Mestre Zu cuidava da formação de um grupo de jovens seminaristas que se preparavam para o sacerdócio, uma vida de abnegação e de disciplina. Quando chegavam ao mosteiro já tinham passado por outros estágios de formação e ultrapassado obstáculos incomuns para a maioria dos jovens da mesma idade. A rotina incluía serviços para o próprio mosteiro, estudos filosóficos e trabalhos que demonstravam a capacidade de cada de um em refletir e compreender os escritos sagrados. Abordagens diferenciadas sobre estes escritos eram bem-vindas, mas não eram comuns, mesmo sendo textos repletos de simbolismos. Eles permitiam que a partir de escritos, aparentemente simples, fossem percebidas mensagens profundas a respeito da vida e do universo.

Hari se destacava entre os seminaristas, para o bem e para o mal. Para o mal, pela dificuldade de cumprir as suas obrigações básicas. Tinha dificuldade de acordar, atrasava nas tarefas e parecia estar sempre atrasado, sempre devendo. Às vezes, apresentava-se ofegante, como se o tempo fosse insuficiente para tudo o que precisava fazer. 

Hari se destacava para o bem pela sua capacidade interpretativa e por fazer links de textos milenares com situações do cotidiano do século XX, inclusive de empresas, onde vivenciara alguma experiência antes de ingressar no seminário. Também para situações de família, de relacionamentos ou mesmo políticas. Tudo demonstrava que ele seria um grande líder e orientador, mas antes, precisaria ser capaz de administrar a si mesmo, especialmente, o próprio tempo.

Em um dos encontros de perguntas e respostas, quando Mestre Zu reunia todo o grupo e tentava esclarecer dúvidas, trazer informações e trabalhar o ponto que cada um precisava aprimorar, recebeu um questionamento de Tenkuo, sob o qual estava bastante reflexivo:

            __Mestre Zu, a coisa que mais quero na vida é ser livre e fazer usar o meu livre-arbítrio para fazer do meu tempo, o que eu quiser. Como posso conseguir isso?

Mestre Zu não teve dúvidas e respondeu sem precisar refletir muito.

            __ É uma pergunta profunda, Hari, mas a resposta é simples. Arranje uma boa gaiola e viva livre dentro dela, decidindo como aplicar o seu tempo, que é mais do que dinheiro, é vida.

            Em seguida, acrescentou:

            __ Você entendeu bem?

            __ Sim, Mestre, entendi muito bem. Só podemos exercer a liberdade, dentro de limites, como de uma gaiola. Alguns limites nos são impostos, mas outros, como no caso do nosso tempo, podemos nós mesmos estabelecermos espaços, maiores ou menores, e dentro destes espaços, sermos livres para vivenciá-los.

   Passaram-se os anos e Hari, agora um Mestre, tornou-se um grande orientador no que chamaríamos de gestão de tempo, e que eu prefiro denominar como relacionamento com o tempo. Ele conta esta história com frequência e uma de suas lições principais é: defina o que importante; descarte o que não for; estabeleça blocos de tempo para cada coisa; vivencie cem por cento aquele tempo, livre de qualquer ansiedade, estando pleno naquele lugar, naquela gaiola. 

Viver cem por cento o presente é cada vez mais difícil e o trabalho autônomo e o home office, por exemplo, podem misturar ainda mais as coisas: trabalho, vida familiar, problemas pessoais, tudo no mesmo local e tempo, sem delimitações. Tenho visto muitos se perderem com esta suposta liberdade. Para sermos livres, precisamos, nós mesmos, estabelecermos as nossas gaiolas de tempo, não uma, mas várias. Cada coisa no seu tempo e no seu lugar. Isto também construir felicidade conscientemente.

E você? Está conseguindo criar as suas gaiolas para liberdade?