“Olha, quando eu estudo aqui nas universidades americanas, os cursos tratam como ‘Ciência da Felicidade’, mas, quando vou para as empresas, tenho que falar em ‘bem-estar’ para elas aceitarem.”
A afirmação é de um conceituado psicólogo organizacional, cujo trabalho é ajudar as empresas a criarem condições para um trabalho mais enriquecedor para os colaboradores, o que também favorece os resultados das companhias. Faz parte do seu trabalho demonstrar a direta correlação entre a felicidade dos colaboradores e indicadores como: volume de vendas, satisfação dos clientes, rentabilidade, atração de talentos, diminuição da rotatividade de pessoas e até mesmo a valorização de suas ações nas bolsas de valores. Há estudos em mercados americanos, europeus e, até mesmo, aqui no Brasil, que demonstram essa correlação.
No entanto, há um grande paradoxo que não pode deixar de ser percebido. O mundo das empresas parece ter vergonha de falar em felicidade, como se fosse uma utopia. É como se, inconscientemente, se pensasse que o trabalho não é lugar para ser feliz, mas um local para produzir e ganhar dinheiro, e que o máximo que se pode objetivar para as pessoas é o chamado bem-estar.
A chegada da nova NR-01, que trata da prevenção da doença mental no trabalho, deixou várias empresas em verdadeiro pânico, só sendo acalmadas com a comunicação de que as punições pela não adequação só virão daqui a um ano. Entendo que as normas legais costumam vir acompanhadas de uma enxurrada de burocracia, de excessos que ferem o bom senso e da “síndrome do pequeno poder” dos agentes de fiscalização.
Mas aí é que está o problema. O assunto não deveria ser tratado como uma obrigação legal, mas como um conjunto de oportunidades estratégicas que unem os interesses das empresas, dos seus líderes e dos colaboradores. Os interesses são comuns quando se fala em produtividade, saúde mental e felicidade.
Mas é preciso ir além do bem-estar. Bem-estar é o básico. Boas empresas já oferecem o básico — ou até mais. Cabe a elas oferecer boa remuneração e boas condições de trabalho, além de prepararem seus gestores para uma liderança eficaz, que desenvolva as pessoas e que considere o estágio de maturidade e comprometimento de cada um, em uma determinada circunstância (liderança situacional). Boas empresas cultivam um saudável clima organizacional. Excelentes empresas fazem mais: estimulam o estudo e a adoção de modelos mentais e práticas positivas.
Numa relação entre adultos, no entanto, não cabem atitudes paternalistas ou tutelares. Cabe a cada um fazer a sua parte na direção do que se almeja. E o que as pessoas aspiram vai além do bem-estar: o que as pessoas querem é ser felizes.
Quando falo em felicidade, você sabe que não me refiro apenas à alegria ou ao prazer, mas também a outras dimensões, como o engajamento, o propósito, as relações saudáveis, a superação de resultados e o preparo para lidar com as dificuldades e frustrações que a vida impõe a todos, sem exceção.
Você sabe de tudo isso, mas será que todos sabem? Se não houver preparo por meio do estudo, a felicidade — sendo algo subjetivo — continuará sendo uma interpretação pessoal de cada um, restrita a momentos felizes, como alguns acreditam.
O ser humano não almeja apenas bem-estar: ele quer ser feliz. Você não quer comer somente arroz e feijão, beber apenas para matar a sede, morar em uma casa exclusivamente para abrigo, ter uma pessoa qualquer ao lado para não estar só, um corpo que apenas funcione, uma roupa que apenas cubra o corpo, ou colocar seus filhos em uma escola qualquer. Você quer muito mais do que isso.
Quanto ao trabalho, você não quer ser apenas mão de obra. Quer exercer todo o seu potencial na atividade que consome a maior parte das suas horas do dia. Quer ser produtivo, respeitado e reconhecido. Quer sentir que está se desenvolvendo a cada dia. Mais do que isso, quer saber que está contribuindo com algo maior e se sentir pertencente a um grupo do bem. Quer ter orgulho da empresa em que trabalha, que, por sua vez, atende às aspirações de seus proprietários e investidores.
Você não quer uma vida mais ou menos, quer? Pessoas e empresas almejam a felicidade! Ela abrange o bem-estar, mas não se limita a ele. E isso não é utopia.
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