Fui questionado, a partir dos dois últimos artigos em que abordei o tema sincronicidades, se não haveria nesta compreensão uma contradição. Se é verdade que o Universo tenta se comunicar conosco por meio de sinais e de sincronicidades, sendo uma linguagem que podemos nos esforçar para aprender, isto não implicaria em uma devida obediência a esta Força Superior, eliminando o exercício de nossa livre escolha?
É uma questão que me faz refletir com mais profundidade. Faz sentido o questionamento, como fazem sentido as perguntas que nos levam a buscar as respostas em nosso interior. Quando isto acontece, a resposta surge com mais convicção, pois foi elaborada por nós mesmos. Às vezes, aparece sob a forma de descoberta ou de criação de algo novo.
Mas voltando a questão em si, a reflexão me confirmou que não, que não existe a tal contradição, a menos que nós mesmos desejemos abrir mão de nosso livre arbítrio, transferindo para terceiros, decisões e escolhas que a cabem a nós. A responsabilidade da escolha, afinal, foi nos concedida pela própria Força Superior, a quem muitos chamamos de Deus.
Se eu converso com alguém, leio um livro ou percebo sincronicidades como uma linguagem do Universo, tenho a oportunidade de refletir, fazer as minhas considerações, ampliar alternativas e fazer escolhas. A partir daí, é hora de aplicar o kannagara que, como expliquei no último artigo, é uma palavra que no xintoísmo significa algo como “caminho da Grande Natureza”, ou, deixar seguir o fluxo natural, confiando e sem apego.
É exatamente isso a que se propõe o coaching profissional (não aquilo que indevidamente se autointitula coaching no Brasil, por falta ainda da regularização profissional). O coach não aconselha, não orienta, não dirige o cliente. Em um trabalho de parceria, ele o estimula a ordenar os seus pensamentos, a refletir, a tomar decisões e a colocar em prática o que ele mesmo decidiu.
Há pessoas que seguem este processo, sem a ajuda de um profissional, fazendo uso de outros mecanismos. Alguns escrevem, desenham ou falam para si mesmos, parecendo que estão malucos, falando sozinhos. Outros utilizam os seus companheiros, colegas ou alguém próximo para falar e organizar o pensamento. Nem sempre é fácil ter alguém que pare para ouvir verdadeiramente, esteja presente cem por cento, seja capaz de trazer questionamentos que contribuam com as reflexões e, principalmente, não queira dar conselhos, às vezes, com muita ênfase para convencimento.
Não sei você, mas não gosto de receber conselhos, salvo em situações muito excepcionais, em que solicitei ou consenti que a pessoa o fizesse. Se isto não aconteceu, tendo a rejeitar, criando uma espécie de barreira ao que a pessoa vai dizer, às vezes, com a melhor das intenções. Com boas intenções, podemos ser invasivos e desrespeitar a pessoa.
Observo, porém, que há indivíduos que agem inversamente. Tentam fugir da sua responsabilidade, buscando ao máximo, transferir as decisões para as outras pessoas, seja o chefe, o sacerdote, o terapeuta ou o coach. Com frequência perguntam: “O que eu faço?”.
Conheci um casal que transferiu para o sacerdote a decisão se deveriam ou não se casar. Depois, onde deveriam morar? Estava na hora de terem o primeiro filho ou seria melhor depois da casa própria?
Há vários de exemplos de situações como esta. Nestes casos, costuma haver uma dupla distorção. Primeiro, o de quem aconselha, que alimenta o círculo vicioso e o seu próprio ego. Segundo, de quem cria esta dependência, esquecendo-se de que estamos sempre fazendo escolhas, mesmo quando decidimos não o fazer. Somos nós que dirigimos a nossa vida e dirigimos o nosso destino, um presente do Universo. Podemos construir ou não felicidade. Penso que é uma boa notícia, embora nos traga responsabilidade. Benjamim Franklin afirmou que na vida há duas coisas que não podemos evitar: a morte e os impostos. Há uma terceira: fazer escolhas.
E para você? O que seria estar atento aos sinais e desfrutar a direção do próprio destino?
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