Nair era a quinta dos nove filhos. O pai vivia do plantio de algodão no interior do Paraná. A mãe era professora de uma escola isolada, um tipo de colégio muito simples, de madeira, cujos únicos recursos eram um quadro negro e giz e que reunia quatro ou cinco turmas em estágios diferentes. Nair acompanhava a mãe e aos cinco anos, sozinha, aprendeu a ler e a escrever. Um pouco depois, a própria Nair, em alguns dias, com a sua pequena cartilha, sem que a família soubesse, alfabetizou a irmã caçula. 

A vida era de escassez e de muita luta para os onze integrantes da família, mas nunca passaram fome. Nair lembra que uma baguete era dividida pelos onze. Descobriu o mundo da leitura, lia revista Grande Hotel escondida dos pais e frequentava a biblioteca pública. Aos 18 anos, já na capital, Nair teve a sua primeira boneca, um presente de seu namorado. Foi inscrita em um concurso de poesias concorrendo com 4.400 trabalhos e teve o seu selecionado. Ganhou outras premiações em concursos de poesia e de literatura, chegando a publicar 5 livros, enquanto estudava e trabalhava. Um destes empregos foi como como atendente e encarregada de telemarketing, onde formou amizades para toda a vida. Nair é mãe de 4 filhos e lutou com eles enormes desafios, que cada um precisou enfrentar, sempre amparados pela mãe guerreira. 

Com um pouco mais de sessenta anos, Nair se aposentou e foi para casa, se isolando de tudo. A família se preocupava, pois ela perdera a vontade de viver, sentindo-se vazia. Não imaginava que ainda poderia ser útil a quem quer que fosse, ela, que a vida toda se sentira assim.

Nair foi salva por um convite de uma de suas amigas dos tempos do telemarketing, que agora era uma empresária e que precisava de alguém qualificado e de confiança. Nair ganhou uma nova vida. Aos 64 anos, iniciou uma nova carreira, em uma nova área e em uma nova empresa, onde diz, aprender e ensinar a cada dia. Passados agora quase seis anos, uma de suas novas formações, foi como coach e mentora, o que lhe qualifica a fazer uso de seu conhecimento e experiência, sem ser invasiva, utilizando o potencial de cada um de sua equipe e dos que a procuram.

Neste momento, muitas pessoas maduras estão em fase de transição profissional. Alguns estão saindo de empresas por onde estiveram muito anos. Outros vivenciam uma sequência de mudanças, típicas de nossos dias. Há os que buscam uma troca de carreira, visando uma maior realização pessoal. Ou os que precisam de uma grande transformação, mesmo permanecendo na mesma atividade. Há ainda os que sonham com a aposentadoria e os que se desiludiram com ela, saudosos de outros tempos, em que se sentiam mais necessários.

Cada história é única e todas são ricas. De comum, existe algo inerente ao ser humano, que é a necessidade de sentir-se útil, necessário, pertencente à vida. Ao invés de retirar-se para os aposentos (origem da expressão aposentar-se), costuma ser mais realizador buscar um novo tipo de aprendizado: como fazer uso do seu conhecimento em benefício de outras pessoas e contribuir para um mundo melhor. É um tipo de qualificação que nunca termina e que pode fazer do tempo um grande aliado. 

Ouço de Breno, um executivo que desfruta da dor e das delícias de quem tem 45 anos e lida com novos questionamentos: “Me sinto um tanto incomodado. Quero ser mais do que um adulto. Quero ser um verdadeiro líder, alguém que some positivamente na vida das pessoas”. Bruno e Nair vivem momentos diferentes de uma trajetória que talvez faça parte de uma Missão comum de todos nós: aprender, realizar e compartilhar. Diferente para cada um será o Propósito, o que toca o nosso coração, que vem de dentro e que é que capaz de nos fazer vibrar, nos qualificando para fazermos isso da melhor maneira que conseguirmos.

E quanto a você? O que faz de você mais do que um adulto? O que a sua história traz de aprendizado e realização? O que faria você feliz em compartilhar?