- Com que papel você mais se identifica? Como acadêmica, fisioterapeuta professora de pilates ou empresária?
A pergunta é dirigida para Ingrid. Como acadêmica possui doutorado, realiza pesquisas e faz palestras em congressos. No papel de fisioterapeuta, Ingrid atende clientes em sua academia de pilates e cobre eventuais ausências de outros professores (eles chamam os clientes de pacientes, mas nem todos se sentem assim). Para finalizar, ela cuida da gestão desta e de outras duas academias, tendo já criado, anteriormente, uma rede de franquias, no Brasil e no exterior.
- O que mais me identifico é com a área acadêmica, mas gosto de atender pacientes. Também me atrai empreender, fazer negócios, mas tenho dificuldades como gestora. Tive vários sócios somente para que eles cuidassem da gestão, só que nenhum deu certo. No passado, quando havia as franquias e investidores, tive que estudar administração até para entender os termos que utilizavam. Aprendi a teoria; a prática é mais difícil. Meu sócio atual, meu marido, também é da área de saúde e prefere atender. A administração acabou ficando comigo.
- O que para você é mais difícil?
- No início minha gestão era, predominantemente, com o coração e aí os resultados não foram bons, ficando aquém do mínimo desejado. Depois que estudei, descobri que precisava olhar para os números e comecei a atuar com base neles.
- E o que aconteceu?
- Os resultados financeiros melhoraram, mas, na época, e eu me tornei uma pessoa horrível, fria. Deixei o coração de lado e, se precisava, eu cortava. Se era para demitir, demitia. Era mais fácil dizer não do que sim. Meu foco era a maximização dos lucros e, temporariamente, até que deu certo. Digo, deu certo financeiramente, mas eu não estava feliz.
- O que mais você descobriu?
- Que é por isso que os executivos chegam nas clínicas de pilates tão duros, tensos, com os músculos dos ombros contraídos e com dores na coluna e em outras partes do corpo. Eles carregam nos ombros o peso das decisões inflexíveis que precisam tomar. Isto não é muito falado, mas na própria essência do pilates, Joseph Pilates enfatiza a necessidade do equilíbrio entre a saúde física, a saúde mental e a saúde espiritual. As três precisam estar bem.
- E a partir daí, como você está lidando hoje?
- Estou tentando equilibrar: gerir pessoas, que para mim, é a parte mais difícil, e os resultados, que são essenciais. Estou ouvindo mais a minha intuição, ora seguindo o coração, ora a razão. Consigo assim ser uma boa pessoa, que é a minha natureza. Isso sem deixar de olhar os números. Estou aprendendo a lidar com os dois lados. Sinto que posso ser feliz no trabalho, preservando os principais valores.
Da fala de Ingrid, um desafio comum a qualquer gestor, o olhar para as pessoas e para os resultados. A posição de liderança é mais complexa do que pode parecer. Ela requer que o líder esteja sempre evoluindo. É preciso estudar, porque existem técnicas que podem ajudá-lo a ter bom desempenho. Acima de tudo, no entanto, ele precisará evoluir sempre como ser humano, tornando-se cada vez mais, uma melhor pessoa. Não há outra forma de se tornar um bom líder, um bom gestor.
Ingrid está no caminho certo, em um desenvolvimento que nunca se encerrará. Para quem gosta de estudar é bom. Para quem trabalha pela saúde também. As empresas não são diferentes, como seres vivos que são. Ou seja, na gestão de um negócio também cabe a máxima de Joseph Pilates: é preciso cuidar do corpo, da mente e do espírito. A aparente contradição entre eles é um falso dilema, pois a força está na sua complementaridade. É isso que nos permitirá ser felizes com o nosso trabalho, especialmente, se estivermos em uma posição de liderança.
E para você? O que seria cuidar das três dimensões em seu trabalho?
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