A equipe, ou o que restara dela, estava desmotivada, sem perspectiva, cumprindo apenas tabela. A primeira impressão de César, um gerente recém-contratado, era de que se tratava de um grupo de zumbis. Não havia energia, mas, sim, uma visível letargia que parecia contagiosa. Uma espécie de vírus que deveria ter contaminado todos do departamento, passando pela equipe de apoio, os técnicos e até os vendedores. Os próprios subordinados o informaram que o negócio estava morrendo e que não demoraria muito tempo, a decisão seria inevitável “como falavam todos os corredores da empresa”. 

O vírus que atingira a equipe tinha nome: fofoca. A de que a área seria extinta. Não que a possibilidade fosse de todo falsa. A unidade de negócio enfrentava um histórico de resultados negativos nos últimos anos, com prejuízos difíceis de serem recuperados. A linha de produtos representava uma pequena parte do grupo controlador, não compondo o seu núcleo de negócios principal. Sua existência se justificara no passado por uma questão considerada estratégica, a ocupação de um espaço que, do contrário, seria feita pela concorrência. Em função dos resultados, falava-se cada vez mais frequentemente nos corredores e nas salas de reunião sobre a extinção da unidade.

César suspirou e estufou o peito. Seria preciso manter-se firme, imune a qualquer tipo de pessimismo que o arrastasse para a mesma frequência.

Paradoxalmente, um grupo de técnicos procurou César para pleitear aumento de salário, uma vez que, segundo eles, estavam abaixo da remuneração de colegas de outras unidades. Eles defendiam a equiparação, uma vez que, mesmo ganhando menos, cumpriam as suas obrigações, não sendo culpados pelos resultados financeiros negativos. 

César ouviu em silêncio, disse que analisaria a questão e que daria um retorno em breve. Alguns dias depois, convocou uma reunião geral de toda a unidade e fez três perguntas ao grupo, pedindo que levantassem a mão nas respostas:

_ Quem não está feliz com a situação de nossa unidade? Todos levantaram a mão?

_ Quem busca cumprir 100% de suas obrigações e acha que deveria ser mais bem remunerado do que é? Todos voltaram a levantar a mão.

- Quem acredita que é possível fazer de nossa área a melhor para se trabalhar e a mais rentável do grupo? Desta vez, praticamente ninguém levantou a mão, sendo que boa parte nem entendeu a pergunta, de tão absurda que parecia.

Em seguida, César apresentou com vigor algumas de suas crenças, fazendo ao final dois convites.

Disse diretamente que acreditava que, se eles estavam fazendo 100% de sua obrigação, eles ainda não mereciam aumento de salário, uma vez que estavam sendo pagos para os 100%. Que eles passariam a merecer quando fizessem além dos 100% e isto se convertesse em resultados.

Acrescentou que ele, César, estava na mesma situação. Ele também estava ganhando menos do que outros gerentes, mas que ainda não fizera nada para merecer ganhar mais. Que ele aceitara o desafio e que não entregaria os pontos, dando ouvidos a fofocas e conversas de corredor, não sendo isto aceitável para pessoas adultas e profissionais. Que seria preciso muito trabalho, muito mais do que 100%, possivelmente sacrifícios, dedicação além dos horários. Que isto precisaria ser feito com alegria e entusiasmo, independentemente das dificuldades. Seria preciso ir além, fazer mais do que era a obrigação. Que depois disso, e de reverter os resultados, iria lutar para uma melhor situação para todos que merecessem e para si mesmo. Que este era o seu propósito e o seu compromisso.

Concluiu fazendo dois convites: o primeiro para os que topassem adotar a regra do “Fazer além dos 100%” e um outro para os que prefeririam pedir demissão ou serem demitidos. Alguns desejaram sair na hora, no meio da reunião, talvez uns 4 ou 5 em um grupo de cerca de 70. Os demais ficaram e em quatro anos, a unidade, mesmo com uma pequena participação na receita do grupo, tornou-se a de maior rentabilidade percentual e a de maior crescimento. A maioria da equipe mudou expressivamente a sua situação de vida. Dos que ficaram, além de César,  outros se tornaram futuros diretores do grupo. Todos fizeram da regra “Fazer além dos 100%” um mantra de sucesso, aplicando-a em outros setores da vida.

 Para reflexão: na construção consciente de Felicidade, o que seria fazer além dos 100%? O que seria para você fazer além dos 100% para melhorar significativamente a sua vida?